Coisas que não contam sobre o Split de Pagamentos

Marco César Contesini

Split de pagamentos é a divisão dos valores de uma única transação financeira entre dois ou mais participantes de uma venda (geralmente online). É comumente usada nos Marketplaces, onde o gestor dos mesmos recebe uma comissão pela venda e o parceiro recebe o valor pelo fornecimento do produto ou serviço.

Ferramentas deste tipo já existem há algum tempo e automatizam uma parte do processo, pois permitem que as plataformas de e-commerce passem o percentual ou valor que cada participante da transação irá receber com a garantia que: ou todos receberão caso a transação seja concretizada ou nenhum receberá caso a transação seja rejeitada.

Isso elimina a preocupação com saldo insuficiente para uma parte do valor (não haverá aprovação parcial da transação) ou estorno (todos terão o valor estornado caso a transação seja contestada) e ajuda bem no dia a dia. Mas na prática, nossas experiências mostraram que a implementação é bem mais complexa do que isso.

A começar pelo fato de que o gestor do Marketplace pode receber comissões diferentes de cada parceiro. Com um pode-se acordar 12% de comissão e, com outro, 15%. Até aí é simples, basta ter no cadastro a informação correta de cada parceiro, mas caso esse cadastro precise ser disponibilizado na plataforma, isso não é cadastrado na ferramenta de split de pagamento. Além disso, se não houver um histórico de eventuais alterações desse percentual, poderá haver questionamento dos valores e polêmicas que poderiam ser evitadas com um simples relatório.

Outro ponto: quando uma compra é realizada podem existir produtos de parceiros diferentes, cada um com um percentual diferente de comissão, e o valor total de comissão será a soma das comissões parciais. É importante que o gestor do Marketplace tenha uma ferramenta de consulta para que possa avaliar os valores totais que recebeu, o que foi pago por cada parceiro, enfim, entender como cada parte está sendo remunerada e detectar alguma inconsistência.

Seguindo adiante, pode ser que o comissionamento seja diferente dentro de um mesmo parceiro, de acordo com a categoria ou produto que ele vendeu. Talvez um parceiro comissione em 15% à venda em vestuário e somente em 5% à venda de produtos eletrônicos, porque nestes ele conta com uma margem menor.
Agora a coisa ficou bem mais complicada, cada produto de cada parceiro precisa ter a comissão cadastrada! Ou seja, a plataforma tem que possuir essa funcionalidade para a coisa dar certo.

Consideremos uma compra de 3 produtos, custando R$ 200,00 cada um (total de R$ 600,00) mas com percentuais diferentes de comissão. Em um a comissão é de 6% (portanto R$ 12,00 de comissão), em outra a comissão é de 10% (R$ 20,00) e no terceiro, a comissão de 20% (R$ 40,00).
O total das comissões é de R$ 72,00, ou seja, 12% do valor total da transação. Esse valor não está em nenhum cadastro, deve ser calculado pela plataforma a cada transação e informado à ferramenta de split de pagamento. Se houver mais de um parceiro na mesma transação, esse valor terá que ser calculado parceiro a parceiro, produto a produto.

Agora imagine explicar isso para cada parceiro, em cada compra realizada! É preciso haver relatórios detalhados e transparentes para evitar discussões e mal-entendidos, além de corrigir rapidamente eventuais erros de cadastro.
Ou seja, embora a solução de split de pagamento seja uma boa alternativa técnica para se automatizar uma parte deste processo, sua implantação e controle vão muito além e precisam do suporte de uma plataforma de Marketplace encorpada e preparada para todas as possibilidades de split além, é claro, de possuir gestão de parceiros, curadoria de produtos, gestão promocional, entre outras facilidades, para garantir o sucesso do empreendimento.

Somente implementar o split dos pagamentos sem a construção do alicerce de funcionalidades que suportam este procedimento pode gerar imensas dificuldades operacionais e tornar a administração do negócio inviável.

Marco César Contesini
Marco César Contesini, Diretor Comercial da Agência Chleba, graduado com Computação pela Unesp, pós-graduado em Administração de Marketing pela Fundação Getúlio Vargas. Foi professor da Fiap na área de tecnologia e negócios e trabalhou em empresas da área de tecnologia e marketing. É consultor certificado nas áreas de telecomunicações e sistema de gestão SAP.